Para sobreviverem a crises, empresas precisam ter diversidade e inclusão

Evento da XP Investimentos debateu sobre o papel da inclusão e da diversidade na construção de empresas mais sustentáveis e atrativas para investidores.

É possível pensar no mercado empresarial e em investimentos sem diversidade e inclusão? A XP Investimentos buscou responder essa questão através da 11ª edição do Expert XP, evento que anualmente dialoga sobre temas relacionados a investimentos, política e empreendedorismo.

Em 2021, a temática central foi o ESG, sigla em inglês para Environmental, Social e Governance (Ambiental, Social e Governança), e como a sustentabilidade, base deste modelo, vem transformando o mundo dos investimentos.

Duas mesas do evento apontaram o papel da diversidade e da inclusão nas empresas para incentivar os investimentos e garantir a relevância no mercado.

No debate sobre ‘A força da liderança feminina’, a proposta foi abordar formas de alcançar a equidade de gênero no setor empresarial e quais seriam as consequências de não o fazer.

Para Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil, uma empresa que não olha para a diversidade compromete sua relevância. “As mulheres correspondem a mais de 50% da população do país. Não olhar para esse recorte significa abrir mão de um mercado que responde por metade do país”.

Ela reforça que um ambiente diverso possibilita que a empresa aumente sua capacidade criativa e que se conecte com o público externo e consumidores de forma mais eficiente.

“Não dá mais para fechar os olhos para os estereótipos de grupos majoritários e invisibilizá-los no mundo corporativo. As empresas precisam criar processos de recrutamento inclusivos. Ainda temos poucas mulheres na área tecnológica. A melhor forma de motivá-las a entrar é mostrar que elas podem crescer”.

Cosentino pontua que as empresas conseguem ter um número significativo de mulheres na base, mas poucas em cargos de liderança.

“Não basta contratar diversas profissionais e pagar menos para elas em comparação aos seus pares masculinos no mesmo posto”.

De acordo com uma pesquisa da empresa de recrutamento especializado Robert Half, 62% das organizações ainda não têm políticas específicas para aumentar a participação de mulheres em cargos de liderança.

Para Rachel Maia, fundadora RM Consulting e presidente do Conselho Consultivo do UNICEF, as empresas não podem mais se abster de defender propósitos, uma vez que os consumidores estão olhando para essas questões também.

“O consumidor está prestando atenção. Não basta oferecer um ótimo produto, o consumidor quer saber o que tem dentro dessa empresa. Apostar em um processo que ainda está criando forma é um risco. Mas é o que o consumidor busca, por trazer conteúdo”.

Para ampliar a discussão, a XP também promoveu a mesa ‘Caminhos para um futuro inclusivo’. Na mesa, DJ Bola, fundador e diretor da A Banca, produtora social cultural, argumentou que as organizações e empresas tendem a olhar para a periferia como base de problemas.

“Existe inovação nesse território. Periferia pode ser mais que um cliente, beneficiário ou usuário. As empresas precisam trabalhar junto com a periferia para potencializar e transformar o que já existe”.

Ele ressalta que já existem setores nas periferias e que são liderados por mulheres, negras e mães solo.

“Elas estão à frente de iniciativas que estão causando transformações em seus territórios. Investimento social privado não chega para potencializar isso. O que ocorre nas quebradas é uma escala para dentro, para ter impacto nos territórios. Teremos uma grande transformação quando as periferias tiveram acesso à educação e tecnologia”.

Já Maitê Schneider, embaixadora da Rede Mulher Empreendedora e cofundadora do projeto TransEmpregos, ressaltou os perigos das “caixinhas” para classificar os grupos diversos nas empresas.

“Se você não faz parte de nenhum grupo criado pelas empresas, acha que não tem grupo. Às vezes, as pessoas fazem parte de diversos grupos. Diversidade é nossa melhor característica”.

Ela reforça que não basta as empresas colocarem a diversidade e a inclusão em seus valores e ter metas que exijam que todos sejam iguais.

“Isso gera crise, disputa. Para que a diversidade traga resultado no macro, é necessário que o micro, o espaço interno, também seja potente. É fundamental não esquecer que CPNJs são feitos por CPFs, que empresas são feitas por pessoas“.

DJ Bola também apontou que os olhos da sociedade já são preconceituosos e que para mudar essa mentalidade “quem está com a caneta e vai decidir as coisas tem que ter uma visão mais ampla do que está acontecendo. Dar oportunidades, reconhecer os privilégios, provocar esse sistema capitalista para pensar diferente. A transformação acontece quando estamos juntos”.

Por: Mariana Lima

Fonte: observatorio3setor.org.br

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