Os efeitos da pandemia sobre as aceleradoras e incubadoras de negócios de impacto

Incubadoras e aceleradoras são consideradas atores fundamentais no apoio à estruturação de negócios orientados à resolução dos desafios socioambientais mais complexos. De acordo com estudo da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em 2019, existiam 363 incubadoras e 57 aceleradoras no Brasil.

De base tecnológica ou comunitária, de diferentes setores, portes e perfis, ligadas a universidades públicas ou privadas, parques tecnológicos ou ainda independentes, essas organizações têm grande potencial de influenciar a agenda de empreendedorismo e inovação em escala nacional e global.

No entanto, a incorporação de uma estratégia de apoio a negócios de impacto demanda tempo, investimentos financeiros, equipe qualificada e o engajamento de muitos atores, dentro e fora da organização. Os desafios, que já eram inúmeros e alvos da ação de investidores, empresas, filantropos e organizações do investimento social, ganharam ainda mais escala frente à pandemia de Covid-19.

Motivado por esse cenário, o ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), organização que integra a cadeia de esforços e recursos para fortalecer o ecossistema de investimentos e negócios de impacto no país, se viu no papel de responder aos efeitos da crise gerada pela disseminação do novo coronavírus sobre essas organizações, que são um dos focos de sua atuação desde 2015, por meio do Programa de Incubação e Aceleração de Impacto. A iniciativa já realizou cinco edições, beneficiando 77 incubadoras e aceleradoras das cinco regiões do país.

O objetivo do ICE é que, por meio do apoio às organizações intermediárias, essa resposta alcance os empreendedores, sobretudo os periféricos. A ação ganhou o nome de Elos de Impacto.

Fernanda Bombardi, gerente executiva do ICE, explica o porquê da decisão de responder aos efeitos gerados pela pandemia de forma alinhada à agenda estratégica do ICE. “Em meio a tantas ações emergenciais, começamos a refletir sobre nosso papel e contribuição. Não tem a ver com defender a temática acima de qualquer coisa, mas com entender que, ainda mais no atual contexto, ter negócios que resolvam problemas sociais e ambientais relevantes faz muito sentido.”

Escassez de recursos é principal desafio

Fernanda conta que a pandemia intensificou um dos principais desafios enfrentados pelo ecossistema de negócios de impacto e incubadoras e aceleradoras: a escassez de recursos.

Por meio de um amplo processo de escuta de organizações e empreendedores envolvidos nos diversos programas e ações do Instituto, incluindo a rede de intermediárias do Programa de Incubação e Aceleração de Impacto, o ICE identificou um risco de descontinuação da agenda estratégica de apoio aos negócios de impacto.

“No âmbito dos empreendedores, identificamos que os mais impactados têm sido os de periferia, para quem ficar sem renda de uma hora para outra coloca em risco não só o negócio, como a própria sobrevivência daquela família. Entre as organizações intermediárias também diagnosticamos desafios financeiros, seja porque as parcerias públicas e privadas começaram a ser suspensas com o redirecionamento de recursos ao combate à Covid, seja porque muitos empreendedores começaram a deixar os programas de incubação e aceleração por não ter recursos para manter sua participação”, explica a gerente.

Guarda-chuva de ações

Para responder a esses desafios, o ICE mobilizou recursos adicionais junto a seus associados. Por meio de um mapeamento coletivo organizado pela PonteAPonte, que identificou iniciativas diversas em resposta à crise, a equipe do ICE pré-selecionou aquelas que se classificavam como ações do ecossistema de impacto.

Com a ajuda de um comitê composto por alguns de seus associados para a definição das iniciativas, o levantamento deu início ao que a organização chama de apoio em ondas. A primeira beneficiou três projetos liderados por organizações intermediárias, que vão apoiar mais de 700 empreendedores em periferias de diferentes regiões do Brasil: Fundo Volta por CimaEmergências Econômicas Éditodos e Fundo Periferia Empreendedora.

Na segunda onda, o investimento foi direcionado a outras três iniciativas: Plano de Ação Emergencial para startups, da plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA); Plataforma Negócios pelo Futuro, do Quintessa; e projeto Emergência na Distância, da Aventura de Construir.

Ampliando o aporte

Essas primeiras ondas de apoio ativo, ou seja, realizadas a partir de um esforço do ICE de mapeamento e escolha de organizações, por meio das quais, o recurso pudesse se irradiar a diversos empreendedores em situação de maior vulnerabilidade, se desdobraram em uma segunda fase da iniciativa: a chamada Elos de Impacto Incubação & Aceleração.

Dirigida a incubadoras, aceleradoras e outras organizações que apoiam negócios de impacto, a iniciativa, apoiada pelo Fundo Vale, recebeu projetos em duas categorias: fortalecimento institucional da própria organização e desenvolvimento de instrumentos ferramentas, metodologias e ações específicas para o fortalecimento dos negócios.

“Outro desafio que identificamos entre as organizações intermediárias foi o de ter que passar, sem nenhum preparo das equipes, todos os processos de incubação e aceleração, que antes eram presenciais – workshops, cursos, acompanhamentos, etc. – para o online. Isso não é trivial”, ressalta a gerente.

Entre 53 propostas, das quais, 39 elegíveis, o ICE selecionou seis projetos, que receberão 150 mil para implementação até dezembro de 2020. As ações vão possibilitar o fortalecimento e a expansão do apoio a empreendimentos rurais em mais estados do semiárido brasileiro, a incubação de soluções voltadas à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, a criação de uma plataforma de capacitação para novos empreendedores e empresas na região Nordeste, a elaboração de critérios de avaliação de negócios de impactos e atualização de ferramentas de gestão por uma incubadora no Acre, além da criação de uma jornada de aprendizados sobre gestão de projetos com experiências de negócios de impacto.

União de esforços

Ao todo, a iniciativa Elos de Impacto já direcionou R$ 641 mil a doze projetos, envolvendo seis organizações intermediárias, 800 empreendedores e 23 organizações apoiadas. Para Fernanda, a crise precisa ser respondida pelos diversos setores com estratégias de curto, médio e longo prazo.

“Todos os atores precisam ter a leitura de que vamos precisar unir esforços para resolver problemas de diferentes naturezas. No curto prazo, os emergenciais, como garantir a sobrevivência das pessoas e organizações. No médio e no longo prazo, não tem outro jeito que não investindo em atores estratégicos. Precisamos ter consciência de que não são só as ações que fizemos nos últimos meses que resolverão os problemas. Eles são mais complexos e difíceis de serem superados e exigirão essa união de esforços prolongada no futuro.”

Por: Gife

Fonte: gife.org.br

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